Foi o que eu escutei da voz doce que estava ao meu lado, enquanto olhávamos pasmos para o céu e segurava firme sua mão pequena e calejada. Da para sentir a textura da espada e calor do sangue dos derrotados em suas mãos. Mãos que muito desejei, não sempre, porem mais do que nunca.
Apesar da tamanha destruição ali presente, me virei para deslumbrar, talvez pela ultima vez, o seu rosto, que para minha surpresa, também me olhava. Ironia minha seria se disse-se: “com seus olhos”, pois ela tinha apenas um, e o outro, substituído por um tapa-olho, se foi na guerra, não nesta, mas há muito tempo.
Nós permanecemos em silencio, o único barulho era o da fúria dos deuses caindo na terra
e o grito horrorizado daqueles que ainda permaneciam em pé, sobreviventes da guerra que acabara de acontecer e interrompida pelo céu que desabara sobre nossas cabeças.
Tamanha ironia! Imagino aqueles que acabaram de morrer, rindo de nossas caras, como crianças travessas em suas brincadeiras de mal gosto. Mal o sangue da batalha esfriou, aliviados por não ter nossas vidas decepadas, estamos aqui, diante da morte inevitável, somente nos resta assistir ao céu pegando fogo e derramando suas chamas.
Injusto!
Aperto ainda mais a sua mão.
Eu, balançando a cabeça, com um sorriso no canto da boca e uma exclamação de ironia, vejo claramente no fundo de minha mente a imagem daquele homem que a pesar de tornar meu amigo e a única pessoa a me entender, somente agora, no fim de tudo, eu o entendo.
